quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não vou calar meus lábios


“Sucedeu, porém, que depois o coração doeu a Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul. E disse aos seus homens: ‘O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do SENHOR, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do SENHOR’. E com estas palavras Davi conteve os seus homens, e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul; e Saul se levantou da caverna, e prosseguiu o seu caminho.

Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna, e gritou por detrás de Saul, dizendo: ‘Rei, meu senhor!’ E, olhando Saul para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou. E disse Davi a Saul: ‘Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o SENHOR hoje te pôs em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do SENHOR. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Sabe, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Julgue o SENHOR entre mim e ti, e vingue-me o SENHOR de ti; porém a minha mão não será contra ti. ’” (I Samuel 24:5-12)

Em I Samuel 24.6 lemos essa declaração do caráter de Davi, que se tornou conhecido como “homem segundo o coração de DEUS”: “Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do SENHOR”. Este versículo, isolado, descontextualizado dos fatos que o antecederam e a ele se seguiram, tem se tornado o anestésico preferencial, aplicado por líderes eclesiásticos, para que o rebanho se cale diante de seus procedimentos desviantes. Com base numa interpretação convenientemente deturpada, ao líder eclesiástico – e a toda autoridade constituída, por mera aderencia – é permitido fazer e agir conforme o que estiver em seu coração ou o que gritar a sua carne, pois ninguém poderá questioná-lo, pois é um ungido de DEUS.

Na mesma linha de raciocínio - e usando provavelmente o mesmo versículo (existem vários sobre o tema autoridade na Bíblia, porém convenientemente ignorados), não deveríamos denunciar maus governantes, pois são autoridades instituídas por DEUS - mesmo os eleitos pelo voto popular, alguns mediante campanhas fraudulentas.

Não deveríamos também denunciar presidentes de grandes corporações poluidoras, ou que utilizam mão-de-obra escrava, ou que praticam assédio moral sobre seus empregados, ou que fraudam impostos, pois se eles chegaram nesses postos de comando, foi porque DEUS assim permitiu. 

O fato de que esses senhores porventura se utilizam do seu imenso poder secular para determinar - por meios fraudulentos de dominação de massa - quem será o próximo prefeito, governador ou presidente, ou pastor, ou bispo, ou apóstolo, ou patriarca, também não deve ser denunciado. Afinal, foi DEUS quem permitiu que lá eles estivessem, mesmo que, afinal, na maioria das congregações eles sejam eleitos por homens falíveis e imperfeitos como nós, de forma direta (pelas congregações, em assembléias) ou de forma indireta (pelo corpo eclesiástico, ou seja, pelos próprios pastores, bispos, concílios, etc.). 

Da mesma forma, seguindo esta linha de raciocínio, deveríamos execrar todos os profetas da Bíblia, pois se fizeram opositores a reis maus e corruptos, sacerdotes e profetas que se desviaram de seus propósitos originais, pois DEUS permitiu que essas abominações ali ocorressem. Profetas como Nathan e João Batista seriam sumariamente censurados com base nessa linha de raciocínio, coincidentemente pregada por esses mesmos senhores e seus acólitos. 

Há, nos dias atuais, o caso de um pastor-empresário, que enquanto empresário amargou sucessivos fracassos, que lhe valeram lições importantes, até que foi consagrado pastor com mérito, permanecendo, porém empresário, utilizando seu brilhante ministério eclesiástico (não há como negar, e quem o fizer estará enganado) e seu incrível senso de oportunidade como ponte para empreendimentos que em muito ajudaram a propagar a Palavra de DEUS. Eis que de um tempo para cá o vemos envolvido em empreendimentos nem sempre alinhados com a Palavra que ele tão bem prega.

Sua associação com outro eclésio-empresário estrangeiro tem sido desastrosa, bem como a decorrente e equivocada aliança com o mais novo “patriarca” eclesiástico brasileiro, que por sua vez é muito mais uma associação comercial - fruto da sua veia empreendedora - do que propriamente eclesiástica, pois nunca na história desse país se viu duas pessoas tão diametralmente opostas, doutrinariamente falando, caminhando tão juntas. 

Não poucas pessoas tem se desviado em consequencia dessas associações. Oramos para que esses senhores finalmente se arrependam de suas equivocadas contaminações e retornem ao que deveria ser seu exclusivo ministério, pois seu mau exemplo está se espalhando de forma desastrosa sobre os jovens vocacionados, que já não mais desejam dar suas vidas pelo ministério pastoral, mas criar um eclesionegócio altamente lucrativo, a exemplo desses senhores.

Nada contra pastores empresários, muito pelo contrário: apoio esse proceder. O próprio Paulo se valia de uma confecção de tendas para manter o sustento da igreja primitiva. A propósito, em Atos 20:32-38 lemos:

“E agora eu os entrego aos cuidados de Deus e da palavra da sua graça. Pois ele pode ajudá-los a progredir espiritualmente e pode dar-lhes as bênçãos que guarda para todo o seu povo. Não cobicei nem a prata, nem o ouro, nem as roupas de ninguém. Pelo contrário, vocês sabem que eu trabalhei com as minhas próprias mãos e consegui tudo o que eu e os meus companheiros de trabalho precisávamos. Em tudo tenho mostrado a vocês que é trabalhando assim que podemos ajudar os necessitados. Lembrem das palavras do Senhor Jesus: "É mais feliz quem dá do que quem recebe." Quando Paulo acabou de falar, ajoelhou-se com os irmãos e orou. Então todos choraram muito e abraçaram e beijaram Paulo. Estavam tristes, especialmente porque ele lhes tinha dito que nunca mais iam vê-lo. Então eles o acompanharam até o navio.

No entanto, presenciamos uma mudança radical em líderes eclesiásticos que sempre se levantaram contra esses falsários do evangelho. Esse fato levanta algumas questões interessantes, que talvez alguém possa esclarecer, como por exemplo: 

1.      Se os falsários do evangelho eram antes (muito bem) combatidos à luz da Palavra, o que realmente motivou a mudança de postura daqueles que os combatiam? Terá sido a noção de que na Bíblia não temos profetas ricos e abastados, mas profetas que viveram apenas do suficiente provido por DEUS? 
2.      Podemos, a partir da mudança radical desses ex-combatentes valorosos, concluir que o seu ensino anterior era errado – enquanto se pronunciavam contra os mercadores da fé - e agora está certo, ou terão eles de fato sucumbido às tentações de Mamon? 
3.      Se assim for, tudo aquilo que os levou à anterior notoriedade pública diante do povo de DEUS está baseado em erro e portanto, sua notoriedade torna-se injustificada porque está baseada em engano?
4.      Ou trata-se apenas de um desvio de conduta, movido por interesses financeiros? 

O já citado patriarca tupiniquim prega a "pérola" que o profeta João Batista foi decapitado porque duvidou da origem messianica de Jesus Cristo, sendo portanto punido com a morte desonrosa, após uma curta temporada na prisão de um rei corrupto e lascivo.

Com base nesse disparate, a manifestação de João Batista, ao saltar no ventre de sua mãe Isabel ao encontrar-se com Maria grávida de Jesus passa a ser um engodo bíblico ou uma mera alegoria, por ordem desse herege moderno? Terá ocorrido amnésia pós-parto no profeta João? E quanto à sua atitude no batismo de Jesus às margens do Jordão? Terá sido então amnésia pós-batismo, um trauma causado pela inveja? A sua afirmação “Convém que eu diminua e Ele cresça” terá sido forjada pelo evangelista e plantada na boca de João Batista sem que o mesmo nunca a tenha pronunciado? Terá ele sido abandonado pelo Espírito Santo que o conduzia até então? O fato de Jesus ter anunciado que dentre os nascidos de mulher, nenhum homem houvera nem haveria maior que João Batista foi um rasgo de adulação por parte do Filho de DEUS, por determinação desse "ungido" do século XXI? 

Outro ponto fartamente pervertido e propagado por esse patriarca - e propalado por todos os pastores espiritualmente fracos e ameaçados de perderem seus soldos e ministérios por sua falta de fé no verdadeiro DEUS, que sustenta os seus amados - é essa questão falaciosa de "tocar no ungido do Senhor", com base nessa afirmação de Davi em I Samuel 24.6. 

"Tocar no ungido" refere-se literalmente a feri-lo com a espada, matá-lo, tirar-lhe a vida, algo proibido pela Lei Divina e bem conhecido por Davi. Não se refere, portanto, a advertir a autoridade sobre o seu erro - ou o profeta Nathan teria sido justamente fulminado por advertir esse mesmo Davi pelos seus pecados de assassinato e adultério, em II Samuel 12:7-15:

Então disse Natã a Davi: “Tu és este homem. Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; e te dei a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teu seio, e também te dei a casa de Israel e de Judá, e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. Porque, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o SENHOR: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.”
Então disse Davi a Natã: “Pequei contra o SENHOR.”
E disse Natã a Davi: “Também o SENHOR perdoou o teu pecado; não morrerás. Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do SENHOR blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá.”
Então Natã foi para sua casa; e o SENHOR feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, e adoeceu gravemente. 

Essa visão distorcida dos fatos é vital para que uma conquista inestimável dos filhos de DEUS seja pervertida e anulada: o acesso direto ao Pai através do Filho. 

Essa visão traz de volta o paradigma da infalibilidade papal, ou seja, o "patriarca" não pode ser questionado, pois dele procede a vontade e a expressão de DEUS - incluindo as batatadas teológicas. 

Essa visão torna o papa, ou patriarca, ou apóstolo, ou bispo, ou pastor, ou líder de grupo o seu novo intermediário com DEUS, como fazem os líderes católicos apostólicos em relação a Maria e aos santos. O patriarca deixa de ser tão homem, tão falível e tão pecador como nós, para se tornar um messias, na perfeita acepção da palavra. O que procede daquela boca espiritualmente infecta passa a ser o novo evangelho - segundo o neopatriarca - e tem força de lei espiritual.

No entanto afirmo: DEUS não pode desmentir-se, simplesmente porque não pode mentir. A mentira então fica com o homem que a pronunciou e a colocou como fardo pesado sobre o povo de DEUS. 

Para alguns cristãos torna-se obviamente mais fácil ter um homem fascinante a quem seguir, em vez de seguir diretamente a Jesus.

É tão mais fácil ter um interlocutor que tenha sobre si a responsabilidade de falar e ouvir de DEUS aquilo que eles mesmos deveriam falar e ouvir. O próprio povo de DEUS foi quem pediu por um rei humano que reinasse sobre eles em vez de DEUS após a morte de Samuel, como está em I Samuel 8:4-10:

Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: “Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue.”
E Samuel orou ao SENHOR.
E disse o SENHOR a Samuel: “Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti. Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.”
E falou Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei.

DEUS lhes deu justamente o que buscavam: um homem de bela figura para que reinasse sobre eles, até que se mostrou tão humano quanto eles - e pecou contra DEUS. Nem foi preciso que Samuel morresse - Saul pecou muito antes disso! Maldito o homem que põe sua confiança em outro homem.

Jesus Cristo não morreu na cruz para que buscássemos o Caminho, a Verdade e a Vida em outro homem, semelhante a nós, mas exclusivamente n'Ele.

Quem quiser que se omita e se cale, mas enquanto folego houver, falarei da Palavra de DEUS para que os homens se arrependam de suas monstruosidades e retornem ao Caminho enquanto há tempo.

Davi não matou Saul, mas cortou-lhe a orla do manto e mostrou-lhe que se assim quisesse o teria feito. Foi atrás de Saul para mostrar-lhe o fato. Em I Samuel 24.12, Davi fala a Saul:

 "Julgue o SENHOR entre mim e ti, e vingue-me o SENHOR de ti; porém a minha mão não será contra ti."

Portanto, Davi mais uma vez se expressou em relação ao que havia entre ele e Saul. E se expressou claramente CONTRA a atitude de Saul. 

O contexto da passagem mostra que ninguém é proibido de manifestar-se contra o MAL que alguém esteja provocando a quem quer que seja. Quem se furta a manifestar, tendo consciencia do erro alheio, passa a ter parte com o mal que é provocado por aquela pessoa. 

Mais além: Se alguém - independente de posto ou cargo - está em erro, por exemplo, malversando os recursos da igreja, segundo Paulo, deve ser confrontado primeiramente por aquele que detectou a fraude, para que se arrependa. Persistindo ele na fraude, ele deve ser confrontado por aquele que detectou a fraude e mais duas ou tres testemunhas, para que se arrependa. Prosseguindo ele com a fraude, deve ser confrontado com a assembléia. 

Em I Timóteo 5:17-22 lemos:

Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: “Não ligarás a boca ao boi que debulha”. E: “Digno é o obreiro do seu salário”. Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.
Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade.
A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro.


Aos que são mais afeitos ao Antigo Testamento, podemos relembrar Deuteronomio 19.15:

Uma só testemunha contra alguém não se levantará por qualquer iniqüidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que cometeu; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato.

Calar-se, omitir-se, é alimentar a fraude e permitir que a abominação cresça. 

Lamento profundamente que esses líderes tenham decepado algumas passagens da Bíblia e mantenham seu povo na ignorancia, manipulando o seu conhecimento sobre a Palavra de DEUS, escolhendo o que o rebanho pode ou não pode saber, de forma a mante-lo passivo a todo tipo de falcatrua que intentem realizar. 

Lamento profundamente que muitos tenham escolhido para si a ignorancia, o tapar de ouvidos e o fechar de olhos, mesmo após terem recebido o conhecimento adequado, deixando-se levar por lobos em pele de cordeiro, que da gordura e da carne do rebanho se alimentam e da sua lã se cobrem.

De tanto enxergarem a abominação, a promiscuidade e a licenciosidade prosperando diante do altar, é que muitos jovens tem se "autovocacionado" para os seminários teológicos, já com o intuito de se tornarem iguais ou piores do que esses apústulas e putriarcas da perdição, fazendo carreira nesse abominável mercado financeiro que se tornou a igreja. 

Mas até mesmo isso já estava previsto. Quem quiser que se cale e arque com as consequencias do seu silencio.

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