sexta-feira, 28 de junho de 2013

Doze respostas à jornalista Virginie Jacoberger-Lavoue, do francês Valeurs Actuelles

1) O que deve ser revisto, especialmente no tocante a reforma institucional? o Congresso?
RL>> A principal fonte de alimentação da corrupção no Brasil deriva do sistema eleitoral em si, baseado no voto obrigatório e no sistema de legendas. 
Atuando em conjunto, formam o veneno social que leva as hordas de corruptos a se perpetuarem no Poder Legislativo. 
Um povo que vota por obrigação, vota por votar, vota em qualquer um, vota em candidaturas bizarras, como forma de protesto à obrigatoriedade do voto. 
Aí entra em cena o sistema de legendas, que transfere o excesso de votos de um candidato campeão de popularidade para candidatos designados pela alta cúpula dos partidos. Então, tomando por exemplo a candidatura do comediante Tiririca, que teve 1,5 milhão de votos com seu slogan "Vote Tiririca: Pior que está, não fica!": seu excesso de votos foi suficiente para eleger mais 4 deputados federais de sua legenda, todos eles envolvidos em movimentações suspeitas e negociatas. 
O caso do comediante não é o único e é o expediente predileto dos partidos para perpetuar no poder seus caciques, tais como donatários de capitanias hereditárias da época do regime colonial português. É através desse sistema perverso - e acima de tudo teatral - que os envolvidos no escândalo do Mensalão vinham se reelegendo, mandato após mandato.

2) O que promove o clientelismo?
RL>> O clientelismo é alimentado pela permanência de dinastias de políticos, mantidos no poder pelo estratagema descrito na pergunta anterior.

3) Quais são os políticos em vista para a presidência e quais lhe parecem suspeitos?
RL>> Todos são suspeitos, porque foram gerados a partir de um sistema eleitoral corrupto, criado para manter a corrupção, conforme descrito na pergunta 1.

4) Dilma está gerindo bem a crise?
RL>> Se levarmos em consideração que ela simplesmente reapresentou como novidade um discurso de campanha datado de 2007, creio que ela deverá se esforçar um pouco mais para vencer suas próprias ideologias, para realizar algo de realmente positivo - o que, particularmente, não creio que seja possível, por um questão de princípios.

5) Você teme uma crise política, ou a considera salutar?
RL>> Crises políticas são como a febre, que nada mais é do que um alerta de que o organismo (governo) não está cumprindo bem o seu papel. 
A questão principal não é baixar a febre - é combater a infecção, a corrupção do tecido social, então a febre baixará por si só.

6) Quais são os casos de corrupção que mais lhe indignaram?
RL>> Os mensalões - sim, não foi apenas um - do PT, do PSDB, do DEM. A tentativa infantil de anular o Poder Judiciário (PEC 37); o caso Rosimere Noronha; o assassinato do prefeito de Campinas, Celso Daniel, abafado desde que o PT chegou ao poder; o assassinato do ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, atual senador pelo estado de Alagoas; etc.

7) Você acredita no futuro do seu país?
RL>> Sim, mas dificilmente isso se dará pela via eleitoral, função das situações descritas acima, o que é simplesmente temerário do ponto de vista social.

8) A crise social e econômica está se tornando uma crise institucional? por que e por que agora?
RL>> Na verdade, a crise institucional é que gerou a crise economica, já que as instituições que deveriam gerir a economia não tem sido capazes de combater a sangria de recursos, causada pela corrupção pandêmica que assola o país.

9) Quem propõe e apóia a PEC 37?
RL>> Quem propôs a PEC 37 foi um marionete, um testa de ferro do poder que se alimentava do Mensalão, com o objetivo de desautorizar o Poder Judiciário a investigar os crimes cometidas pela base aliada ao governo - e que ainda não foram trazidos a público. Quem tem a coragem de propor uma medida dessas, é porque sabe que a condenação será irrefreável e inevitável.

10) Qual é o estado da criminalidade e da corrupção?
RL>> A corrupção vem de cima. A criminalidade deriva da sensação de impunidade usufruída pelos atuais mandatários. Daí aos corruptos se aliarem a criminosos para alimentar o sistema, não chega a ser um exercício exaustivo de estratégia, mas uma consequência simples e natural de um sistema que se canibaliza.

11) O que você acha do pânico do poder, que multiplica as promessas e decisões de forma aparentemente desordenada?
RL>> Ainda não há pânico no poder - ou não estariam repetindo como se fosse novidade o discurso de campanha deles de 2007. Mas se as manifestações continuarem de forma mais organizada, pode ser que cheguemos a um estado de pânico - e aí os desdobramentos podem ser temerários.

12) Qual é a alternativa, que força politica poderia se substituir aos atuais detentores do poder?
RL>> Seria necessária uma total e absoluta renovação dos quadros políticos do Brasil - e isso é um esforço gigantesco, que não pode ser feito em suaves prestações, pois a atual estrutura tem um sistema imunológico poderoso, que elimina qualquer tentativa individual de mudança. Não basta eleger um bom deputado ou um bom senador para lutar contra 530 corruptos organizados. Ele simplesmente é digerido e anulado. Nunca poderíamos ter chegado a esse ponto, pois a solução visível não é nem de longe agradável e remonta à França do século XVIII, se é que me entende.

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