quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Copa e o Complexo de Viralata

Prezados líderes:


Atentem para o fato de que voces SEMPRE terão, entre aqueles que assistem o desenrolar da sua performance diária:

  1. Aqueles que aplaudem e assobiam entusiasticamente enquanto tudo dá certo e passam a apupar e atirar ovos podres e tomates quando acontece a sua primeira bola na trave. Como membros da equipe, só os reconhecemos de fato quando algo indica a probabilidade de dar errado, pois este é o momento em que automaticamente largam suas ferramentas, tiram as mãos dos remos e se calam, esperando a definição da tragédia. São adesistas de primeira hora, mas também são os primeiros a abandonar o projeto ou a causa, optando por algo de mais destaque no momento.
  2. Aqueles para quem nada, nunca, está certo e nada, nunca, funcionará.Estatísticos que são, sabem que ser humano nenhum é perfeito e portanto, sabem que um dia eles estarão certos em seu amargor rotineiro, quando então levantarão aquela placa que sempre carregam consigo, com os dizeres "EU JÁ SABIA!". Como membros de equipe, murmuram enquanto trabalham, inoculando seu veneno em doses generosas nos outros membros da equipe. Se confrontados, nunca tem comentário a fazer, permanecendo de cabeça baixa, acumulando seus ressentimentos por terem sido convidados a opinar num momento que julgam inadequado - cedo demais para que saibam o que opinar ou tarde demais para que algo possa ser feito a partir da sua sempre sábia opinião. Depender da opinião de um desses é estar sempre inadequado ao momento, pois nunca haverá solução possível saindo daquela pobre cabeça, a não ser o fato de que nada está como deveria ser. 

Muito provavelmente, muitos de nós já nos deparamos com um desses tipos em nossas equipes ou platéias. Com Dunga, Felipão, Zagallo e Andrade não foi diferente. A auto-estima do brasileiro merece um estudo de caso, pois conforme dizia Nelson Rodrigues, "o brasileiro médio sofre do Complexo de Viralata", ou seja:: 

  • só o primeiro lugar importa; 
  • o segundo colocado nada mais é do que o primeiro dos perdedores; 
  • a vida só faz sentido com uma vitória esmagadora por dia ou então 
  • merecemos ser escorraçados como cães lazarentos. 
Definitivamente, a vida não é assim. Viver assim adoece e mata de frustração.


Esta noção tem feito a fortuna de apústulas (apóstolos da doença) e putriarcas (patriarcas da podridão) no mundo inteiro, que tem se locupletado dos bolsos dos rebanhos, enquanto berram a plenos pulmões que "DEUS lhe dará, se voce der - e mais lhe dará, se voce der mais! Não aceite de DEUS nada menos que a vitória esmagadora e imediata!". Não é exclusividade dos brasileiros, portanto.

Dentre os mais de 140 países afiliados à FIFA, ficamos entre os oito melhores. Mais de 130 países tiveram desempenho aquém do nosso - países tradicionalmente fortes como Itália e França! Perdemos por um gol de diferença. Nuestros hermanos del Plata caíram de quatro ante os alemães e ainda assim foram recebidos como heróis en su terramadre. Nós desejávamos a forca para os "desgraçados" que nos expuseram à desonra de estamos entre os melhores, mas não sermos absolutamente os melhores dentre os melhores. 


Pobres viralatas, carentes de auto-afirmação diária, com as costelas a furar-lhes o couro pelo ouro não conquistado - de que lhes adiantam a prata e o bronze? 


Pobres viralatas, crentes na mentira penta-secular da predestinação de campeões invencíveis, que não tem que galgar a montanha passo a passo, pois já nasceram no topo dela! Ao que julga estar de pé, cuide para que não caia. Ao que está no topo, cuide para que não escorregue - a descida é íngreme e escarpada, fala aquele que já escorregou do topo.

O dia em que aprendermos a trilhar o caminho onde o revés ensina a triunfar além da humilhação, seremos então bem mais felizes e realmente vencedores.


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