quarta-feira, 22 de abril de 2015

Trinta Anos Hoje






Há exatos trinta anos, eu caminhava através da porta de entrada de uma UTI, estranhando como podia um paciente adentrar uma UTI caminhando com os próprios pés. Tudo que eu sentia era um cansaço que não era sono, mas literalmente debilidade. A equipe médica mandou que eu me despisse e me deitasse na cama. Pensei comigo: se me cobrirem com o lençol até a cabeça, então é porque eu morri e ainda não me dei conta do fato. Menos mal: fui coberto até a altura do peito e imediatamente aplicaram terminais de monitoramento cardíaco, o que naquela altura do fato era uma boa notícia: havia um coração batendo naquele corpo de vinte e dois anos incompletos, deitado naquela cama.


Há exatos trinta anos eu iniciava, ainda sem saber, uma luta ferrenha contra um tipo sorrateiro e tremendamente agressivo de câncer no sistema linfático. Sorrateiro, porque até aquele momento, tudo que eu sentia era cansaço, já por dois dias, que eu tomei como um início de resfriado, afinal o tempo andava frio e úmido. O senso comum espera que um paciente de linfoma apresente gânglios linfáticos aumentados, mas nada disso ocorreu comigo. Só o cansaço, até então. Agressivo, porque minha medula vinha produzindo milhões de linfócitos alterados, gigantes, que não reconheciam as outras células do sangue como amigas. Em suma, meu sangue havia se tornado, silenciosamente, uma massa avermelhada com lixo de células em suspensão. Era como se eu estivesse me autodevorando, silenciosa, porém contínua e velozmente. A propósito, tanta matéria morta em suspensão no meu sangue entupiu a minha válvula mitral e meu coração não conseguia bombear a quantidade adequada de sangue para o corpo, que sem a quantidade mínima de oxigênio, não conseguia converter alimento em energia. Por isso eu cansava tão facilmente.


A partir daquele vinte e um de abril de 1985, o Brasil se despedia de Tancredo Neves e eu era apresentado àquela que seria a luta pela minha vida. Foram dois anos e meio de lutas que incluíram cirurgia, quimioterapia, radioterapia, psicoterapia, fisioterapia e muito amor e dedicação da família, amigos e equipe médica, liderada pela Dra. Cláudia Bettoni, hoje uma grande amiga. Graças a essas almas generosas que DEUS Todo Poderoso colocou no meu caminho, todos os dias eu quebro o meu próprio recorde de sobrevivência. 


A Ele, toda a honra, toda a glória e todo poder, ontem, hoje e sempre.

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