quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Pássaro do Trovão e o Áudio Reverso



Depois de receber pela enésima vez um e-mail contendo um link para um vídeo no YouTube, contendo uma interpretação de “Faz um Milagre em Mim” tocada ao contrário, com direito a legendas em Português, daquilo que a pessoa que montou o vídeo interpretava como sendo mensagens satânicas, resolvi dar minha contribuição para o esclarecimento dessa falácia travestida de tecnologia teológica, que tem tomado tempo precioso de irmãos zelosos, preocupados com o que estão permitindo que seus ouvidos ouçam e os prováveis efeitos em suas vidas e no mundo espiritual.

Desde já agradeço a todos os irmãos que confiaram no discernimento deste imperfeito escritor e estudioso da Palavra de DEUS para opinar sobre aquilo que ouvi e vi naquele vídeo. Dito isto, vamos aos tratos:

Um pouquinho de Fisiologia e Linguística

O ouvido humano é meramente um captador mecânico de sons, como um microfone. O nervo auditivo converte os sons em impulsos elétricos, que viajam na velocidade da luz até o cérebro, que por sua vez aqueles impulsos elétricos em informação que você busca compreender. Nenhum som audível captado por um ouvido humano passa pelo cérebro sem ser interpretado com base nos sons já familiares, experimentados pelo ouvinte.

Portanto, o ser humano sempre tenderá a "enquadrar" um som captado pelo seu ouvido a algum som que já tenha ouvido. Compara o novo som aos que já conhece e o enquadra por semelhança. Por isso sabemos diferenciar sons de motores de automóveis dos sons de caminhões, apesar de ambos serem veículos terrestres; sons de aviões de sons de helicópteros, apesar de ambos serem veículos aéreos. Por isso às vezes confundimos o som de um saxofone com a voz do cantor - enquadramento é o segredo.

Da mesma forma, um índio que nunca ouviu o som de um motor de avião, chamará aquela coisa voando no céu de "pássaro do trovão". Associação com o conhecido, seguida de interpretação.

Mas se há algo que o cérebro humano não tem a capacidade de interpretar naturalmente é o significado inverso de um som ouvido no sentido direto. Um som executado no sentido direto sempre será interpretado no sentido direto.

Uma questão de interpretação

Ou seja: se um som gravado é ouvido no seu sentido correto, ele será interpretado dentro da normalidade; o cérebro jamais tentará automaticamente interpretar o sentido inverso de um som captado, a menos é claro, que algo ou alguém tenha despertado no ouvinte o interesse em interpretar o sentido inverso de um som, o que vamos e venhamos não é natural - e tampouco sobrenatural.

Algo semelhante a Satan provocando a curiosidade de Eva para as "verdadeiras" propriedades do fruto proibido. Até que Satan provocasse essa curiosidade, Eva sequer considerava a possibilidade de provar do fruto. Será que Eva pensava na possibilidade de provar do fruto? É uma possibilidade, mas não há relato de fato relacionado, até que a serpente entrou no palco.

A qual propósito mesmo atendeu essa provocação satânica? A um propósito satânico, é claro.

Qual é a base de todo propósito satânico? A destruição de um propósito de DEUS. Prossigamos então.

Pássaro do Trovão

Se o cérebro humano recebe o sinal deste mesmo som tocado no sentido inverso, o que ele interpretará? Qualquer coisa que se pareça com algo que ele já ouviu, como o índio que vê um avião no céu pela primeira vez: "pássaro do trovão"... “pássaro” porque voa e tem asas abertas, “trovão” porque soa como um longo e apavorante trovão. Óbvio? Para algumas pessoas há mais coisas escondidas – sobrenaturais, é claro – nessa tendência do nosso cérebro em interpretar coisas e sons com base naquilo que já conhece.

Mas... e se o som não se parece com nada que já se tenha ouvido? Forçaremos a interpretação até conseguirmos enquadrar em algo conhecido, afinal o cérebro PRECISA compreender a informação que está chegando e não descansará até conseguir esse enquadramento ou até que o som pare de fluir. Nem que seja uma ou duas sílabas, entrecortadas por ruídos ininteligíveis, mas o cérebro tentará até o fim. É aí que “That’s too much!” (traduzido do Inglês: “Aquilo é demais”) vira “Deites tomate!”. Parecido, não semelhante, mas suficiente para o cérebro sossegar.

Agora, imagine que "um amigo... muy amigo..." deu uma forcinha ao seu cérebro e adicionou legendas escritas ao vídeo onde a música é tocada ao contrário. Seu cérebro agradecerá penhoradamente a ajuda. Automaticamente passará a interpretar o som tocado ao contrário segundo o que está escrito nas legendas. O nome disso é indução.

Na aula de Inglês

Não é assim que aprendemos idiomas estrangeiros? O Professor toca o áudio várias vezes e nos faz repetir o que ouvimos. Ainda não entendemos o que está sendo dito ali. Talvez comecemos a rir uns para os outros porque “That´s too much!” lembra “Deites tomate!”. A frase em Português certamente nada tem a ver com a figura projetada na tela. Talvez saibamos que estão falando em Inglês porque aquela é certamente uma aula de Inglês. Mas ainda assim não conseguimos interpretar o significado logo de primeira. Se tentarmos pronunciar o que ouvimos, o provável é que da nossa boca saia um belo de um "embromation", que de longe não é inglês.

Então o professor projeta na tela a transcrição do áudio... e aí, não só entendemos bem, mas também FIXAMOS o seu significado. Eficiente, não é mesmo? Da próxima vez que você ouvir aquele áudio, associará diretamente o significado ensinado pelo professor. Quantas vezes um bebê precisa ouvir a palavra "mãe" para associar aquele som ao seu significado? Mesmo estratagema.

Pois bem, é justamente o que fazem esses adeptos da obscura e mística ciência do áudio reverso: induzem as pessoas a interpretar o que eles querem nos áudios ao contrário. O simples fato de dizerem que há uma mensagem subliminar ali já predispõe as pessoas a ouvir palavras satânicas ali. Adicionando legendas ao áudio então, torna-se irresistível para o cérebro interpretar conforme eles induziram. Tudo muito sutil. Tudo a serviço do inimigo.

Consciente ou inconscientemente, eles prestam um desserviço ao Reino de DEUS, apesar de posarem - e se julgarem, a maioria - dedicados servos do Altíssimo, pois espalham terror e engano no meio do povo. Se é verdade, e eu creio que seja verdade, que "quem comigo não ajunta, mas espalha" [Mt 12.30 e Lc11.23], eles agem como servos de Satan, verdadeiros publicitários da causa satânica, espalhando mentiras e confusão. Um dia estarão frente a frente com o Senhor e ouvirão: "Servo mau e infiel, aparta-te de mim, pois nunca te conheci" [Mt 7.23].

Crie o seu próprio áudio reverso e faça sucesso no Inferno

Quer fazer uma experiência? Selecione qualquer louvor de sua preferência, inverta o áudio (o gravador de som do Windows - ou qualquer outro editor de áudio digital - permite inverter áudio) e procure interpretar qualquer som que se pareça com "Jesus", "Deus", "Cordeiro", "Santo". Depois de algum tempo você terá identificado não só uma, mas várias ocorrências da palavra escolhida.

Em seguida, toque o áudio invertido novamente e tente interpretar palavras como "diabo", "Satan", "inferno", etc. É provável que no início você tenha alguma dificuldade, pois ali você já identificou palavras santas. Mas com insistência, acabará conseguindo captar alguma coisa.

No entanto, seria capaz de garantir que você nunca recebeu uma dessas mensagens contendo teor celestial e divino. Nunca tive o prazer de receber um link para o YouTube ou um MP3 onde um áudio tocado ao contrário trouxesse mensagens de paz e esperança, um conselho, um alento que fosse.

É curioso: enquanto outras correntes religiosas divulgam mensagens divinas nos lugares mais insólitos, o povo evangélico parece ter um mórbido fascínio por mensagens satânicas escondidas em canções de sucesso ou coisa que o valha. Ou alguém ainda não leu ou assistiu a reportagens sobre “a Virgem Maria” estampada numa mancha no vidro de uma janela? E sobre um rosto sangrento de “Jesus Cristo” esculpido numa predreira depois que um raio caiu ali? E sobre um “Jesus Cristo” com cabelos longos e barba num pedaço de pão mofado? E sobre um santo guerreiro estampado na superfície da Lua? E aquele rosto sereno na superfície do planeta Marte?

Conclusão: O que o cérebro não entende, ele adapta. Se algo ou alguém introduz uma tendência, boa ou má, o cérebro capta a tendência e passa a interpretar segundo aquela tendência.

Mensagem subliminar é outra história

Agora, nada disto que tratei até agora pode ser chamado de “mensagem subliminar”... Espantoso, não? O princípio da mensagem subliminar é diferente, e também não tem a eficácia que a lenda tenta fazer com que acreditemos.

A mensagem subliminar "funcionaria" assim: imagine que você está assistindo a um filme no cinema. Cada segundo de projeção, dependendo da tecnologia, contém de 24 a 35 fotogramas por segundo, para que tenhamos a sensação de movimento, causada pelo efeito de persistência ocular. Então, alguém mal intencionado substitui um daqueles 24 quadros por um fotograma diferente daquela sequência de movimentos. Neste quadro se lê "COMPRE PIPOCA", ou "VOTE no ZÉ", ou qualquer mensagem curta e direta assim. Seus olhos não serão capazes de perceber o texto, pois o efeito de persistência ocular mantém o cérebro interpretando o movimento do filme, mas uma vez a cada segundo aquela mensagem será projetada por 42 milissegundos, seguidamente, por duas horas a fio, até o final do filme. Segundo os teóricos defensores da tese da mensagem subliminar, seu cérebro captará inconscientemente aquela mensagem.

Resultado: quando você sair da sala de projeção, comprará pipoca ou votará no Zé, influenciada pela mensagem subliminar.

Esses mesmos teóricos defendem que esse princípio também funciona se você fatiar o áudio de uma mensagem sonora e espalhar aquelas fatias ao longo de uma canção. Santo multiprocessamento, Batman!

Sopa de letrinhas

Anos atrás lançaram um livro em resposta ao best-seller "O Código Da Vinci". Segundo o autor, se lermos o original em hebraico do Antigo Testamento pulando as letras de sete em sete ( ou de nove em nove, ou na diagonal, ou de qualquer outro algoritmo mais criativo), formaremos frases secretas que indicam assassinatos de reis e presidentes ao longo da História, catástrofes naturais, guerras e... o dia em que o mundo acabará! Acredite-me, o autor conseguiu achar até mesmo o atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001 ali! Só que quando você vai ver como ele chegou até essa impressionante conclusão, vê que ele usou do mesmo estratagema do áudio ao contrário, ou seja, ele tenta nos induzir a aceitar a interpretação dele para o que aquelas letras reunidas ali dizem. E olha que ele teve que usar um poderoso computador para juntar as letras na ordem secreta... muito blá, blá, blá para “descobrir” somente o que já aconteceu. Claro que nenhum estudioso do hebraico bíblico apoiou essa estultícia.

Cá entre nós: O Altíssimo não é um "deus" de confusão. Mas nós sabemos quem é o ser que tem o maior interesse em nos confundir e nos desviar do nosso caminho. E ele “anda em derredor, bramando como um leão, buscando a quem possa tragar” [1Pe 5.18].


Sobrou para o presidente

Recentemente me foi dado a experimentar que até no "Yes, we can!" (trad: Sim, nós podemos!) do discurso do presidente americano Barack Obama já interpretaram uma saudação satânica. Imagine: levei tanto tempo para aprender inglês e agora não posso mais dizer "Yes, we can" porque um ser humano "descobriu" o que não deveria estar lá! Talvez eu deva passar a dizer "Yes, You and I can!" (trad: Sim, você e eu podemos!). Mas vai que ali nessa nova frase tem coisa pior escondida? Melhor continuar ouvindo os sons da maneira como DEUS me capacitou para ouvir. Se Obama é o anticristo, ele o será pelas suas ações, que estão fartamente documentadas na Bíblia, não pelo slogan de sua campanha à presidência dos EUA.

Tenho participado de eventos de louvor nas ruas com certa frequência e tenho assistido a pessoas largarem seus copos de cerveja nos bares e virem até o altar, se derramando em lágrimas e se entregando a Jesus, para nunca mais voltar a se embebedar. Isso invariavelmente acontece quando cantamos essa canção, que rompeu a barreira das rádios seculares, para honra e glória do Altíssimo. Poder sobrenatural do cantor ou do compositor? Não. Poder do Criador, isto sim. Imagine o quão furioso deve estar o inimigo com os saques que tem sido feitos no inferno a cada vez que pessoas se decidem por seguir a Jesus por causa dessa canção. Era de se esperar pelo menos alguma “caluniazinha” (diabo, do grego “diaboló”, caluniador) contra o artista que a publicou.

Não nos cabe julgar com que intenção ele escreveu a canção, mas seus efeitos benéficos são inegáveis sobre os perdidos. Não deveríamos rejeitar o que DEUS abençoou.

A função da igreja deveria ser buscar o perdido e leva-lo à salvação. Se foi preciso que DEUS convertesse um pagodeiro secular para que ele compusesse uma canção poderosa como essa, é porque devemos estar acomodados em nossa missão, perdendo tempo divulgando "mensagens secretas" tocadas ao contrário.

“ROHNES oa somerivres asac ahnim e ue!” (Eu e minha casa serviremos ao Senhor!) [Js 24.35]

No amor de Cristo, que sempre falou diretamente como deveríamos andar.

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