Meu filho mais novo, Renan (8), hoje concluindo o 2º ano do Ensino Fundamental, volta e meia pergunta se no ano que vem ele estudará novamente na escolinha onde ele fez do pré-escolar até o Jardim de Infancia. Eu e Rose explicamos que a etapa de Jardim de Infancia já passou, que daqui para frente serão outras turmas, outros professores, outros ensinos. A saudade dos tempos em que ir para a escola era sinonimo de brincadeira é justificável, mas é minha missão, como pai, informar aos meus filhos e conscientiza-los que depois da fase 1, vem a fase 2, e a fase 3, e assim por diante.
Lembremo-nos que por milenios vivemos enclausurados em tribos, onde todos se conheciam desde a infancia e mantinham relacionamentos por décadas, com laços afetivos sólidos, que duravam a vida inteira. Como deslocar-se para muito longe da tribo não era algo decididamente fácil, o normal era que as pessoas se acomodassem e simplesmente deixassem de buscar novos caminhos.
Mas vinha o tempo em que a terra se esgotava e não dava mais o alimento necessário. Vinha o tempo em que o ribeirão deixava de correr e faltava água para beber e dar de beber ao rebanho. Vinha o tempo em que as tempestades derrubavam as casas da aldeia. Vinha o tempo em que a peste atacava e matava todo o rebanho. Quando vinha o tempo, não havia alternativa.
Então, a toda a tribo era forçada a se mover para um outro lugar. Era comum as tribos se dividirem, uns indo para uma direção, outros indo para uma direção diferente, em busca de melhor sorte diante do mundo desconhecido. Alguns escolhiam ficar e acabavam morrendo de fome e sede, por apego ao lugar que um dia os alimentou, mas já não os alimentava.
Que seria da humanidade se as crianças - e não seus pais - tivessem o poder de decidir sobre ficar na terra arrasada, mas conhecida, ou deslocar-se em busca de melhor oportunidade de sobrevivencia em outro lugar, desconhecido, onde teriam que reaprender a se relacionar com a terra, os ribeiros, a floresta, o deserto, os penhascos, as feras, os inimigos? Que seria se os filhos decidissem pelos pais entre sair da cabana em chamas ou voltar para resgatar seus brinquedos, que ficaram lá dentro do incendio?
Uma coisa é ouvir de um filho o choro por ter que comer o alimento que se põe à mesa. Outra coisa é ouvir de um filho o choro porque não há o que por na mesa. Serão nossos filhos a escolher o que é alimento saudável ou pernicioso para si? Afinal, quem está educando quem? Quem está cuidando do futuro de quem? Quem responderá pelo futuro de quem?
Aquele que recebe autoridade, que a exerça, pois lhe será cobrado. Ouça agora o choro da criança que estranha o gosto da comida nova e dê graças a DEUS por esse choro, pois significa que realmente ocorreu mudança, para não chorar pelo filho doente, intoxicado por ingestão continuada de alimento impróprio. Ensina à criança que caminhava no campo a escalar a montanha, pois é do outro lado que está o seu futuro. Ensina a criança que brincava na areia da praia a tirar do mar o peixe que a alimentará - e a seus descendentes - amanhã.
Ensina ao moço o caminho em que deve andar e, mesmo depois de velho, dele não se desviará, é o que diz a Palavra. Ou então, deixe que ela mesma descubra o caminho certo, mas não chore amanhã, quando for desprezado pela autoridade não exercida e pela oportunidade perdida.