sexta-feira, 30 de julho de 2010

Viagem a uma mina de "sal da terra"

Haveria algo mais banal que o sal na sua lista de víveres?

Em alguns lugares da Terra, obter sal é uma aventura diária, conforme demonstra o artigo  publicado pelo destemido Haroldo Castro na revista Época (disponível em http://bit.ly/avYjVw ). Então passa a fazer sentido aquele discurso de sermos o "sal da terra" (Mt 5.13), pois enquanto em algumas regiões da Terra o sal é algo banal e infelizmente chega mesmo a ser desprezado, em outras ele é digno de altos riscos e altamente desejado, porque é raro, difícil de ser obtido.

Constato que no Ocidente o sal tem sido tão banalizado, que cada vez mais as pessoas tem abandonado o sal original, optando por novas variedades de sal, que em alguns casos passam longe do sal original. É cada vez mais frequente encontrarmos novas variedades de sal nos mercados: sal diet (com menos sódio), sal com iodo, sal sem iodo, sal marinho, sal bruto, flor de sal, sal com alho, sal com pimenta, sal vitaminado (?), etc. 

Da mesma forma, assim tem sido com o "sal da terra", que deveria ser servido puro, em pequenas doses diárias, por toda a vida, até o fim da vida, mas que tem sofrido alterações na dosagem, além de adições de outros "temperos" nada saudáveis. 

Desde que Mamon passou a ter participação acionária em determinadas "salinas da terra" (leia-se: denominações religiosas e até mesmo congregações específicas dentro de denominações ditas tradicionais), o "sal da terra" tem saído de lá adulterado em sua fórmula, em quantidades cada vez mais generosas, porque espiritualmente insalubres. Algumas dessas fórmulas oferecidas por essas salinas adulteradas chegam ao ponto de só ter "sal da terra" no rótulo. 

Temos presenciado essas variações nas mesas das famílias, bem como a forma perniciosa com que essas fórmulas tem afetado a saúde espiritual dos membros dessas famílias que consomem esse sal adulterado: 
  • com fanatismo
  • com teologia da prosperidade
  • com idolatria humana (musicolatria, pastorlatria, bispolatria, apostolatria, patriarcolatria)
  • com idolatria material ou anímica (fogueiras santas, trilhas de sal, rosas ungidas, crucifixos, arcas, colunas de óleo, terra importada de Israel, mantos sagrados, etc.)
  • com religiosidade
  • com desconhecimento da Palavra
Resultado: igrejas doentes, cristãos doentes e, claro, líderes doentes, mas com os cofres abarrotados.

Atos dos Apóstolos nos relata o discurso do fariseu Gamaliel, mestre de Paulo, sobre a postura diante do que eles consideravam mais um vento de doutrina:

" Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que por um pouco levassem para fora os apóstolos; e disse-lhes: Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus." (Atos 5:34-39) 


Ainda que eu saiba que DEUS está atento a isso tudo e que nada prevalecerá, preocupa-me a vida daqueles que tem sido educados segundo essas abominações doutrinárias. É importante alertá-los sobre a consequencia desses desvios. É importante alertar também aos  homens que lideram essas abominações entre o povo de DEUS sobre as consequencias de suas escolhas, pois toda a fortuna que conseguirem amealhar nesta vida não conseguirá pagar o preço pelas almas desviadas por sua ação insidiosa. Sabemos desde já que o desvio que pregam não sobreviverá a eles mesmos, mas preocupa-me o povo que bebe das suas fontes contaminadas.

Recentemente, pregando no Congresso de Jovens da Igreja Batista Monte Hermon, na Ilha de Guaratiba (RJ), alertei aqueles jovens para o texto de João 17.12, onde Jesus Cristo, orando ao Pai, esclarece que todos aqueles que estiveram sob sua responsabilidade cumpriram o propósito de DEUS em suas vidas - até mesmo aquele que se tornou em filho da perdição (Judas Iscariotes). Ou seja, todos cumpriremos o propósito de DEUS para nossas vidas, no entanto cabe a nós escolhermos entre sermos enviados ("apóstolos", no grego) para disseminar seu evangelho às nações ou sermos filhos da perdição, com todas as  consequencias associadas a cada escolha.

Qual tem sido a sua escolha?

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A expedição “Luzes da África” terminou, mas a vontade de contar histórias sobre a jornada continua viva. Talvez seja minha maneira de esticar ainda mais essa viagem inesquecível. A cada dia que passa, me dou conta que as 50 crônicas que já escrevi representam apenas a “pontinha da duna” desse périplo – convenhamos que não dá para usar a metáfora “ponta do iceberg” na África.
Uma das experiências inesperadas na Etiópia foi a visita a uma cratera de um vulcão, no último dia de estadia no país. Chegar ao vilarejo El Sod (o nome vem de “soda”) foi um desafio para nosso “amigo” Odé. Não apenas nosso GPS não conhecia o lugar como cismava em dizer que a estrada (de 15 km, que saia da rodovia principal) não existia. Tivemos de recorrer ao velho sistema de ir perguntando onde ficava o vilarejo. Mesmo sem a ajuda de 10 satélites, chegamos ao local e nossa presença atraiu imediatamente dezenas de crianças, ritual constante na Etiópia.
Esquivando-nos da molecada que oferecia de tudo – até mesmo buscar um refrigerante na vendinha – descobrimos a borda da cratera. Lá embaixo, a uns 350 metros de desnível, um lago escuro. Enquanto discutimos se vale ou não a pena descer – teríamos tempo de atravessar a fronteira ainda hoje? – chega um grupo de adultos.
El Sod é um dos quatro vulcões no sul do país que possui grande quantidade de sal na sua cratera. O lago de 800 metros de diâmetro contem sal preto.
Doba Barako explica que a visita da cratera só pode ser feita, por questões de segurança, com um dos guias da associação criada recentemente com essa finalidade. Aceitamos a proposta, mas insistimos que nosso condutor falasse algumas palavras de inglês para que pudéssemos aproveitar um pouco mais do local. Essa exigência criou certo rebuliço, pois, nessa região isolada do país, raras são as pessoas que falam um idioma ocidental. Doba, um dos chefes da associação, achou que seu inglês chamuscado seria a melhor solução e decidiu fazer conosco a caminhada de 2 km.
A trilha é estreita e dividimos o espaço com dezenas de burros que baixam sem carga, ultrapassando-nos sem piedade. Também encontramos muitos asnos que sobem a encosta, carregando no dorso dois pesados sacos pretos, de 25 quilos cada um. Dentro, uma lama negra, bem pegajosa, com um cheiro forte de minério.
Cada burro transporta duas sacolas de sal preto desde a cratera até o vilarejo, no topo.
À medida que descemos, entendemos melhor a operação. Homens, com bolas de algodão tapando as narinas e os ouvidos, entram na água negra e espessa para retirar enormes pedaços de lama salgada. Eles usam uma longa vara, chamada dongora, para soltar esses fragmentos do fundo do lago e, em seguida, mergulham a 5 ou 10 metros de profundidade para encontrar o produto. Esses “mergulhadores do sal” são chamados de lixu e geralmente fazem seu trabalho sem roupa.
A lama é transportada até a beira do lago em bacias de plástico e depois é ensacada. No fundo da cratera, cada saco de 25 quilos vale 50 birr (menos de 7 reais), mas o mesmo produto é vendido por 17 reais na cidade vizinha. Essa pasta de sal preto é considerada como um excelente alimento para camelos e outros animais domésticos.
Um lixu (ou “mergulhador do sal”) carrega nos braços uma bola de lama salgada. O produto é vendido e ensacado na hora.
Doba Barako explica que, como estamos na época das chuvas, o lago está cheio de água. “Apenas os homens com grande experiência podem descer ao fundo para encontrar o sal preto, misturado com lama e outros minerais”, afirma o chefe da associação de guias. “Mas na época da seca, encontramos cristais brancos do mesmo sal”.
Difícil acreditar que o local possa produzir produtos tão diferentes, mas todos insistem que, quando há pouca água, o local é bem mais acolhedor. “Essa cratera tem sido nossa principal fonte de renda durante muitas gerações. Nossos avós e bisavós tiravam sal daqui”, diz Doba. “Queremos agora que o sal – seja preto ou branco – possa também trazer outros visitantes que queiram conhecer o lugar”.
Retirar o sal preto do fundo do lago da cratera é uma atividade tradicional da comunidade El Sod.

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