segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Projetando a Vida... dos Outros

Projetando a Vida... dos Outros

Robson Lelles

E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.
(Gênesis 6.5)


Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.( I Reis 18.21)

Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.( Jeremias 29.11)


O que têm os pensamentos a ver com os sonhos?

Neste caso, sonhos são pensamentos que tomam forma mesmo quando não estamos conscientes. Quando pensamos ou sonhamos a nosso próprio respeito, cabe a nós mesmos trabalharmos para a realização do pensamento ou sonho. Todo bom trabalho realizado diante de DEUS encontrará justa recompensa. Mas quando sonhamos a respeito de terceiros – filhos, cônjuge, amigos, terceiros enfim –, corremos um sério risco de projetarmos naquela pessoa um desejo que é nosso, não dela. Projetar nosso desejo sobre a vida de terceiros é como semear frustrações. Dependendo de como essa semeadura ocorrer, a frustração pode estar do lado de quem projetou, do lado da pessoa que é o objeto dessa projeção, ou mesmo em ambos os lados.

O problema da humanidade não é decidir entre o bem e o mal

Essa noção nós temos desde o Éden. O problema da humanidade está em decidir entre o que é bom e o que é correto - e equilibrar essa medida, para que não sejamos nem tolos, nem perversos em relação a nós mesmos e em relação aos outros.


Nem sempre o que é bom aos olhos do homem é também correto.

Imaginemos um marido que dirige em alta velocidade para levar sua esposa grávida ao hospital, pois ela se encontra com hemorragia. Ele corre para salvar duas vidas, o que é bom; mas infringe a lei de trânsito, o que não é correto. Neste caso, é razoável que o bom prevaleça sobre o correto.

Da mesma forma, nem sempre o que é correto aos olhos do homem é também bom.

Se este mesmo carro da ilustração anterior for parado por um policial e este iniciar uma longa preleção sobre segurança no trânsito e aplicar uma multa ao motorista, ele estará agindo de forma correta, pois a lei dos homens assim o determina; mas o que ele faz não é bom, pois ao interromper por longo tempo o trajeto do veículo, põe em risco as vidas da mãe e do bebê, que estão sofrendo no carro.

Quando nos colocamos numa posição de sempre fazer o que é correto, corremos o sério risco de nos tornarmos fundamentalistas, sempre tomando a lei dos homens ao pé da letra. O agravante dessa atitude é que, geralmente, nós só esperamos esse grau de correção dos outros, ao passo que somos auto-indulgentes. Afinal, alguém diria, se ninguém é de ferro, muito menos eu - e ninguém melhor que eu para saber até onde eu consigo ser correto. Os fariseus à época de Jesus viviam essa realidade. Os talibãs do século XXI representam muito bem essa realidade nos dias de hoje.

Quando nos colocamos numa posição de fazer sempre o que é bom, corremos o sério risco de nos tornarmos hedonistas – ou seja, vivermos em função do nosso próprio prazer, só buscarmos aquilo que é bom para nós mesmos e não necessariamente bom para os outros. Certamente conhecemos pessoas assim, capazes até de compartilhar um momento bom, desde que seja bom para ela. Mas, via de regra, essas pessoas vivem para si mesmas.

Podemos ainda nos tornar passivos – ou seja, só buscarmos aquilo que é bom para os outros e não necessariamente bom para nós mesmos. Conhecemos pessoas assim: pais, mães, homens e mulheres que vivem em função de outras pessoas, sejam elas filhos, cônjuges ou namorados.

Quando uma pessoa hedonista encontra uma pessoa passiva, aí então é que a desgraça está completa e total é a perversão do sentido do que é verdadeiramente bom.

Imaginem um pai que tem em seu coração um sonho de que seu filho se torne um médico, como ele. Ele passa a viver em função de transformar aquela criança num médico e sequer utiliza seu conhecimento para verificar se aquela é a melhor opção para as aptidões do seu filho, que no fundo deseja ser músico e correr mundo a fora em turnês, apresentando sua música.

Por sua vez, seu filho tem um caráter passivo e engole todas as suas frustrações para cumprir um desejo que não é seu, mas do seu pai. Ele vive para agradar o seu pai e lança fora todos os seus sonhos. Essa maldição certamente há de persegui-lo por toda a sua futura carreira de médico e há de se refletir sobre seus filhos – netos do seu pai castrador - e assim por gerações a fio, até que alguém quebre essa maldição.

Nenhuma das duas posições traz equilíbrio à vida da própria pessoa e das pessoas que a cercam.

Estamos falando de sonhos que nunca irão se realizar. O pai nunca terá um médico realizado em seu filho. O filho nunca será um músico realizado em seu consultório ou em sua sala de cirurgia. Ah, mas resta o consolo de que o filho terá uma carreira sólida e não passará privações! Mas, o que é melhor? Um abastado frustrado ou uma pessoa realizada, ainda que sem muitos bens acumulados ao longo da vida? Pois eu digo que o abastado frustrado descarregará suas frustrações sobre pessoas que não tem culpa nenhuma sobre o que aconteceu em sua vida, lá atrás. Médicos omissos, advogados mercenários, policiais corruptos e outros tipos de fraudadores podem ser frutos de carreiras que foram asfixiadas em nome de uma suposta segurança financeira.

Nenhuma profissão é segura no mundo de hoje.

Chegamos num ponto da humanidade onde nenhum lugar é seguro no mundo, nenhum negócio está livre de passar por tempestades que vem do exterior – e ainda temos que viver com nossos próprios defeitos! Quem leu Apocalipse sabe que esses tempos estão previstos – e estão acontecendo agora.

Fincar pé tanto pode significar "teimosia" quanto "acomodação".

Quando fincamos pé em qualquer uma dessas posições – passivo ou fundamentalista – fugimos do propósito que DEUS tem para nossas vidas e nos afastamos da possibilidade de sermos ao menos um pouco felizes nessa vida.

Essa é a situação que o rabino Nilton Bonder (A Alma Imoral, 1995) classifica como a decisão entre ser "tolo" ou ser "perverso". Por incrível que pareça, essa é uma decisão que tomamos a todo tempo em nossas vidas, e tem a ver com a decisão entre fazer o que é bom e o que é correto.

Nós, os tolos.

Somos tolos quando nos anulamos, seja para fazer somente o que é bom para os outros, seja para fazer somente o que é correto aos olhos dos outros.

Um tolo não tem vida própria – ele vive a vida que os outros desenham para ele. O conceito de um tolo sobre si mesmo é o de que sua sobrevivência está garantida se ele fizer somente o que é bom para os outros e agir de acordo com o que é correto para os outros. Auto-estima, zero. Vontade própria, zero.

No entanto, não somos tolos quando anulamos nossos próprios desejos para fazer o que é bom e correto aos olhos de DEUS, porque DEUS tem a recompensa perfeita para o nosso agir. Aquele que se estriba em conceitos humanos para determinar seu comportamento na verdade corre o risco de se afastar da vontade de DEUS. As conseqüências, em geral, são trágicas.

Nós, os perversos.

Somos perversos quando ignoramos as necessidades alheias para obtermos algo que é bom para nós mesmos. Somos perversos quando exigimos o correto além do que é bom.

Um gerente age corretamente quando exige a presença do empregado durante o expediente, mas não faz o que é bom quando o impede de faltar ou sair mais cedo para socorrer um filho doente ou acidentado. Ainda assim ele continua agindo corretamente.

Um filho é perverso quando permite que seus pais passem por necessidade e ao mesmo tempo apresenta uma oferta generosa na igreja. Certamente DEUS abominará aquela oferta e saberá retornar seu desagrado àquele ofertante maldito, porque ele antes quebrou um mandamento divino para aparentar santidade falsa diante do altar, de onde os homens observam-no, maravilhados com a sua falsa generosidade.

Somos perversos quando fazemos o que é bom além do correto. É bom para um filho quando seus pais podem lhe pagar um curso de aperfeiçoamento. Mas quando esse filho, a título de ser um bom aluno e ter notas excelentes, exige que seus pais se sacrifiquem além do orçamento para lhe pagar uma viagem de treinamento no exterior, isso é perversão.

Quando DEUS ordenou à humanidade que se espalhasse pelo mundo e frutificasse, ela se rebelou e resolveu permanecer concentrada. Para isso construiu uma torre que lhe seria por fortaleza. Sabemos o que se desdobrou dessa atitude.

Conclusão:

Imaginem o que sentiu o pai de Abrão, quando este resolveu sair de sua terra para seguir o mandado de um deus que não era o seu deus, mas o DEUS sobre todos e sobre tudo. Era comum aos caldeus, povo de seu pai, sacrificar seus primogênitos em fogueiras aos seus deuses. Era comum aos caldeus considerarem irmãs como esposas e esposas como irmãs. DEUS queria que a descendência de Abrão/Abraão fosse livre dessas abominações.

Ruben era o primogênito biológico de Jacó com Lia. Mas José, seu primeiro filho com Raquel, era o primogênito de coração, pois nascera da mulher que era amada por Jacó. José, o sonhador, considerado arrogante e impertinente por seus irmãos mais velhos, foi jogado num poço por seus irmãos, vendido como escravo, tentado por sua própria senhora. Seguidamente traído, acabou lançado por anos numa prisão numa terra estrangeira. José foi o escolhido por DEUS para salvar a humanidade naquele tempo de fome. Alguém questionaria o critério de DEUS para essa escolha?

Imaginem o que sentiu Jessé, ao saber que o seu primogênito, o guerreiro Eliabe, não seria escolhido rei, mas o caçula Davi, o que tomava conta das ovelhas. Será que DEUS estava errado quando frustrou Jessé e Eliabe?

A árvore genealógica de Jesus Cristo aponta uma série de pecados em seus antecedentes: traições, prostituições, incestos, adultérios. No entanto, no momento certo, DEUS providenciou para que Jesus, o Cristo, nascesse sem pecado, inserindo um novo elemento, um elemento espiritual divino na genealogia de José, da mesma casa de Davi de onde tantos pecados se enfileiravam. O que pode um homem fazer para mudar o propósito de DEUS na sua vida?

Mais uma vez citando o rabino Nilton Bonder:

"Há um olhar que sabe discernir o certo do errado e o errado do certo. Há um olhar que enxerga quando a obediência significa desrespeito e quando a desobediência significa respeito. Há um olhar que sabe reconhecer os curtos caminhos longos e os longos caminhos curtos. Há um olhar que revela, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade. Esse é o olhar da alma."bo

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